Texto para o trabalho: "Da pedra, da relva e do céu".
A obra de Márcio Diegues transita entre a mais antiga forma de expressão
gráfica e a arte ambiental. Ele utiliza-se do desenho como uma linguagem e como um fio condutor de suas experiências sensoriais com o mundo, bem como uma ferramenta sensível de conhecimento do espaço e da natureza ao seu redor. Seus desenhos nos remetem à essência e à verdade; estão nus e, ao mesmo tempo, inteiros. Não são o planejamento de uma obra futura, mas um processo e um fim em si mesmos, que se mostram em cada traço. Ao contrario de outros artistas, não precisa ser definido como provisório ou definitivo, porque nas linhas livres e ao mesmo tempo meticulosas de seus desenhos, não há nenhuma evidencia ou tentativa, não defende o que é seguro e justamente é daí onde emerge a sua fluidez.
Sobre a natureza sui generis do desenho, María Zambrano escreveu que “ela pertence ao tipo de coisas que possuem apenas uma presença: se são som, beiram o silêncio; se são palavras, beiram a mudez; e essa presença que, de tão pura, beira a ausência, é do tipo que está a beira do não-ser”.
Contra o discurso bombástico concedido aos outros tipos de manifestações, Diegues, cujas obras são concebidas inteiramente ao ar livre, consegue manter sua liberdade com leveza e frescor. E tudo isso apesar de aparente fragilidade dos materiais que utiliza, especialmente lápis e papel, e sua consciência dessa mesma fragilidade na natureza em mudança que ele busca captar. Seu trabalho é baseado em experiências cotidianas com a paisagem e no uso do desenho e de seus desdobramentos a partir do livro de artista e da gravura em metal como ferramentas de pesquisa do espaço e da natureza. Nas suas intervenções, graças à impressão de profundidade e de espaço que ele cultiva, consegue envolver o expectador na obra, o que lhe permite entrar na atmosfera criada.
A influência de Minas Gerais em Márcio Diegues pode ser vista, especialmente na utilização do desenho como bússola sensível, onde suas percepções da paisagem e os espaços naturais de Belo Horizonte se materializam em registros gráficos de diversas especificidades. A partir da convivência com a cidade, as qualidades elementares percebidas em seu campo visual tornaram-se um estímulo para o surgimento do desenho e para tecer relações sensíveis mais profundas com os objetos e os seres da paisagem vivida e observada.
Através do filtro de seu olhar, revela-nos a dimensão delicada e sublime daquilo que nos rodeia. Faz-nos redescobrir o espaço em torno de nós. E é em seus cadernos temáticos que o sentimento torna-se primordial; suas paisagens, carregadas de vívidas impressões, exalam romantismo. Preenche as folhas dos cadernos, que ele mesmo produz, dando uma visão abrangente dos humores percorridos pelo artista.
Marta Ruiz Espinós – Bolsa Pampulha 2014.